Wednesday, January 25, 2006

Crônica

Publiquei essa crônica no número zero da revista Ops!, em outubro de 2004. Era um projeto de final de curso em forma de revista sobre sexualidade, orientado pela professora Socorro Veloso, do curso de jornalismo de São João da Boa Vista (SP) - no qual minha namorada se formou. O mais legal a respeito dessa crônica foi a ilustração que o escritor Chico Lopes (autor de Nó de Sombras) fez para ela. O Chico é um escritor de verdade, algo raro em um meio cheio de gente pretensiosa e sem talento. Quem quiser ver a ilustração que procure a revista na biblioteca da faculdade. Nessa crônica usei narrativa em forma de fluxo contínuo de pensamento (o famoso fluxo de consciência); foi a segunda vez que fiz isso.
Finda a noite de sexta; sábado será só diversão

Aquela lambisgóia uma tremenda de uma topeira ainda por cima se meter com economia é muita petulância não sabe nem fazer conta tem que usar os dedos parece um robô preciso me organizar é mais negócio deixar pra pagar a Dani outra hora aquela invejosa com seus vestidos decotados todo mundo acha grande ela é que me paga esse babão sempre olha praqueles negócios caídos mas agora não tira os olhos de mim podia fazer isto o dia inteiro vou fazer a unha primeiro a loja abre depois é melhor vou para lá assim que abrir é só acordar cedo e aproveitar o salão da Rita aberto tomara que aquela saia ainda esteja em promoção dava para levar também o vestidinho que estava na vitrine vai combinar direitinho com o sapato novo devia ter pensado nisto antes e comprado dava para usar um com o outro perfeitamente antigamente eu era mais esperta seria mais inteligente deixar de lado o perfume voltava lá e pagava com cheque outro dia nossa como tá pesado não sai dessa lengalenga já passou dos dez minutos que está nesta é só fechar os olhos e não abrir até na hora vou mexer mais um pouco e pronto já acaba é bom mesmo a novela começa logo tomara que dê tempo de trocar o celular ainda de manhã à tarde não é bom passar no...
- Nossa, como você está quente hoje. Deu tudo certinho. Gozou, meu amor?
- Nunca foi tão bom, querido. Estava nas nuvens.

Tuesday, January 24, 2006

Conforme o prometido...

Vou começar a recuperar aqui as críticas de cinema que fiz para o jornal Enfim, de Ribeirão Preto, no qual trabalhei no primeiro semestre de 2005. Essa aí embaixo foi a primeira, publicada no Enfim do dia dois de abril de 2005. Eles publicavam releases na parte de cinema, então aproveitei que eles não sabiam como tapar o buraco naquele fim de semana e sugeri a publicação uma crítica minha. Como não havia assistido nenhuma das estréias daquela semana, aproveitei o gancho do debate gerado pela morte de Terri Schiavo e mandei ver na Menina de Ouro (desculpem o trocadilho infame), que havia assistido com minha namorada na semana anterior, aqui em Minas mesmo. Os editores leram, gostaram e liberaram.
Menina de Ouro, agraciado com quatro Oscars, permanece na ordem do dia
DANIEL SOUZA LUZ

Com a morte de Terri Schiavo, talvez assistir Menina de Ouro torne-se mais urgente. O filme trata a eutanásia com sensibilidade. Ponto para Clint Eastwood, cujo personagem Dirty Harry já foi – merecidamente – chamado de fascista pela falecida Pauline Kael, a mais célebre crítica de cinema norte-americana.
Uma academia de boxe, anos oitenta, uma grande cidade dos EUA. O velho treinador Frankie (Eastwood), proprietário do local, entre um diálogo eivado de ironias com o zelador Scrap (Morgan Freeman) e a irritação com um moleque desmiolado, descobre que uma garota, Maggie (Hillary Swank), está treinando em sua academia. Pior, ela já pagou meses adiantados e quer que ele a treine. Em fim de carreira, deixado de lado por um lutador promissor, Frankie é obrigado a aceitá-la, mas se recusa a treiná-la por ser contra o boxe feminino.
As situações vão se desenrolando lentamente, o entrelaçamento entre os personagens são paulatinamente revelados. Parece um filme “maduro”, cansativo, com Eastwood dobrando-se ao peso da idade. A ação começa repentinamente, selvagem. Um soco na fuça do telespectador entorpecido.
Frankie rende-se ao talento da garçonete que sonha ser boxeadora. A partir daí, o filme perigosamente tangencia aquelas histórias de vida exemplares, de gente que venceu dificuldades financeiras e incompreensões de seus pares e familiares, mas escapa tanto de ser piegas quanto de ser um dramalhão.
Tudo é bem encaixado. Mesmo personagens estereotipados, como os da típica família white trash norte-americana, desagregada e composta por interioranos reacionários, estão bem caracterizados. A narração em off, abominada por muitos cineastas (Ridley Scott, por exemplo, se viu obrigado a engoli-la na versão final de Blade Runner), tem uma ótima razão de ser.
É uma lástima que Martin Scorsese (indicado por O Aviador) ainda não tenha o seu Oscar de diretor. Porém, Eastwood mereceu levar este ano por provar que cinema, ainda que mainstream, não precisa torrar milhões de dólares em efeitos visuais para provocar impacto. Repare que Menina de Ouro foi feito com um orçamento tão baixo que não há cenas filmadas na Europa, por onde os protagonistas passam – com exceção de uma, sem os personagens. E isto não atrapalha em nada a fluência da trama.

Monday, January 23, 2006

O melhor casamento em que já fui.

Pela primeira vez na vida - neste sábado, dia 21 de janeiro - fui padrinho de um casamento: da Fernanda Fiorin e do Rafael Stivale Firma (o Paraíba). Fiquei orgulhoso. Foi o casamento mais tranqüilo, bacana, rápido e desencanado onde estive presente. O Rafael casou de tênis, apesar do terno e gravata. Chegamos (eu e Aline), juntos com a noiva, no limite máximo do atraso, mas estava tudo sussu. Muito legal.

Thursday, January 19, 2006

Traduções

Gosto de traduzir letras de músicas. Sempre vi isso na Bizz (a velha revista Bizz, que é a que interessa) e em fanzines, onde também havia comentários às traduções. O texto abaixo acompanha a interpretação que fiz de Media Blitz, do Germs, para o webzine do Fabinho Kill, o Choose Your Side - www.cyszine.mus.br
Curti essa tradução, usei expressões tipicamente brasileiras. Quem acha legal esse tipo de interpretação pode acessar o Choose Your Side para ver a letra original do Germs, sua versão, e outras traduções que fiz. O CYS começou como fanzine de papel, o seu foco é no heavy metal, mas permite que eu escreva sobre bandas que não se encaixam no rótulo: já fiz traduções do Killing Joke, Dead Milkmen, Dominatrix, Flaming Lips e Big Black, entre outros grupos que curto muito. Tem uma entrevista engraçada que eu e o Raphael Xavier fizemos com o Disgrassa, banda de power violence/fastcore/sei-lá-o-quê da minha cidade. E muitos textos legais do Fabinho, André Brizola e de uns manos que não conheço pessoalmente. Pena que textos legais que foram publicados na antiga versão do zine, em 2001 e 2002 - a respeito do Mukeka di Rato, Nirvana, Dead Kennedys - acabaram se perdendo.
Germs foi uma das primeiras bandas punks surgidas nos Estados Unidos - mais precisamente, em Los Angeles. Suas primeiras gravações foram lançadas ainda no fatídico ano de 1977, quando o punk rock ainda era incipiente fora de Nova York e da Inglaterra. Graças ao esculacho dos primeiros registros, ao fato de que simplesmente não sabiam tocar quando fizeram os primeiros shows, e às caóticas performances registradas no célebre filme Decline of Western Civilization, a banda carregou a pecha de ser esculhambada demais para ser levada a sério. Bobagem. Basta escutar as últimas gravações para perceber como o grupo ficou afiado. E o vocalista Darby Crash era um gênio intuitivo. A letra de Media Blitz ainda faz mais sentido no Brasil de hoje, no Brasil da ditadura dos anos 70, no Brasil do auge da rede Globo manipuladora dos anos 80, no Brasil dos pagodes e axés de rimas vagabundas dos anos 90; do que na Califórnia da década de 70. As expressões "telinha" e "máquina de fazer doido", tão típicas do nosso país, enriquecem a tradução. E você sacou o duplo sentido de "supervisão"? Darby Crash morreu de overdose de heroína em dezembro de 1980. O guitarrista Pat Smear teve certa atenção nos anos 90, mas a verdade é que ele foi um coadjuvante no Nirvana e no Foo Fighters. Um filme com Christian Slater no papel de Darby foi cogitado, mas o projeto não foi realizado. O grupo, portanto, nunca teve muita exposição, e seu culto ficou relegado ao "mundo dos bons sons", como diria o mestre Fábio Massari.

Monday, January 16, 2006

Fim de semana

O Ricardo Botta e sua namorada Ana estiveram em casa neste final de semana, vindos de São Thomé das Letras. O Ricardo é o criador do Octoberfezes, o festival de rock mais legal de Bauru. Quer dizer, era o mais legal, pois não vai ter mais nenhum. Ele estava me contando dos sucessivos fracassos dos últimos Octoberfezes. Ou seja, como ele mesmo disse, o festival morreu do jeito mais legal possível, "com tudo dando errado".
De qualquer forma, isso demonstra como quem se diz interessado em cultura alternativa, rock underground, etc, etc, geralmente fica só no discurso. Lembro-me de um fanzine feito pelo Leonardo Panço, que era guitarrista do Soutien Xiita, uma banda carioca notória pelo teor sexista de suas letras. Troquei uns zines com o Panço, perdi contato com ele, mas o cara me pareceu ser gente boa. E lembro-me muito bem de um texto dele descrevendo uma mostra de zines no Rio: não apareceu ninguém, exceto um cara de banda que queria divulgar um show, algo assim, e um ou outro gato pingado.
Depois, quando você ou algum amigo seu desistem de tentar fazer algo legal, ficam reclamando que ninguém faz nada, nem há lugar nenhum para ir.

Friday, January 13, 2006

Agora é pra valer

Todo mundo bem acomodado? Vou começar esse blog voltando a brincar de crítico de cinema. Depois posto aqui as críticas que fiz para o jornal no qual trabalhei quando morei em Ribeirão Preto.
Ontem sai na correria para assistir a pré-estréia de um filme chamado “E se fosse verdade”, pois minha namorada (a Aline, gracinha) ganhou dois ingressos. Você pode fazer o mesmo hoje e sair correndo para assistir a estréia, se ler isso (risos depreciativos), mas não sei não...Acho que não vale a pena. Algumas risadas eu garanto que o filme proporciona, para quem estiver interessado apenas nisso. Leia minha crítica abaixo, vou fingir que é um texto sério.

Existem filmes que quase chegam lá. São feitos para agradar, cumprem a contento sua missão com o público de uma forma geral, e não aborrecem quem prefere algo mais ousado. Porém, se arriscassem um pouco mais, provavelmente agradariam o segundo tipo de público e marcariam mais vivamente o primeiro, que só quer entretenimento, por inverter expectativas. E se Fosse Verdade é um desses casos.
O enredo é de comédia romântica: uma médica chamada Elizabeth (Reese Witherspoon) sofre um acidente, e seu espírito começa a assombrar o pobre sujeito (Mark Ruffalo) que sublocou seu apartamento cool. Não há nenhum momento assustador; o galã do filme se impressiona apenas no começo e logo encara aquilo até com naturalidade, como se tivesse que livrar de uma barata impertinente. Por isso, a tentação da comparação com Ghost não cabe aqui, pois não há melodrama nem violência, mas sim alguma correria e mais humor.
O expediente é manjado: o casal protagonista se detesta quando se conhece, vive algumas aventuras quando são forçados a isso, e, quem diria, passam a ter afinidades. Ninguém vai ficar chateado se ler esse texto antes de assistir o filme e descobrir que ele tem o final feliz mais óbvio do mundo, certo? Afinal, trata-se de uma comédia romântica para entreter.
O que incomoda é que o filme poderia ser mais que isso, aliando a sua leveza com um roteiro mais instigante, que aproveitasse a bela fotografia e direção de arte nas seqüências “celestes” para refletir com mais profundidade a respeito de perdas. Isso é apenas esboçado. Não é à toa que a música do The Cure que batiza originalmente o filme (Just Like Heaven) é substituída por uma versão folk inofensiva na abertura e nos créditos finais. Este é o norte de E se Fosse Verdade (os títulos brasileiros raramente captam o espírito, não?): algo potencialmente intenso diluído em brandura artificial.

Thursday, January 12, 2006

Dando início a bagaça.

Isso é um teste, nada mais do que isso.